Entenda o caso dos exames errados que causaram infecção por HIV em transplantes

Seis pacientes foram diagnosticados com HIV após receberem órgãos em transplantes, no Rio de Janeiro. Esse episódio é inédito no Brasil

Publicado em 15/10/2024 às 8:18

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Recentemente, seis pacientes foram diagnosticados com HIV após receberem órgãos em transplantes, no Rio de Janeiro. As investigações revelaram que dois doadores realizaram testes de sangue no laboratório PCS Lab, localizado na Baixada Fluminense, e os resultados apresentaram falso negativo.

Esse episódio é inédito no Brasil e ocorreu em um contexto onde mais de 16 mil transplantes foram realizados no estado desde 2006.

A Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) iniciou uma investigação após a divulgação dos casos.

A Polícia Civil apontou que as infecções resultaram de uma falha operacional com vistas ao lucro. Walter Vieira, um dos sócios do PCS Lab, foi preso em uma operação policial na manhã do dia 14 de outubro.

O laboratório, segundo o Conselho Regional de Farmácia do Rio de Janeiro (CRF/RJ), não possui registro adequado como estabelecimento.

Em resposta às denúncias, o Ministério da Saúde solicitou a interdição cautelar do PCS Lab e recomendou que todos os testes para transplantes no estado sejam realizados exclusivamente pelo Hemorio.

Contrato Bilionário

Em dezembro de 2023, a Fundação Saúde do RJ firmou um contrato de R$ 11.479.459,07 com o PCS Lab para a realização de análises clínicas.

A proposta do laboratório incluía a execução de vários exames, incluindo seis tipos de testes para HIV. Após os casos de infecção, a SES-RJ suspendeu o contrato.

Investigações e Prisões

A Polícia Federal instaurou um inquérito para investigar a infecção dos pacientes, enquanto o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) também abriu um inquérito civil.

Durante a operação “Verum”, quatro mandados de prisão e 11 de busca e apreensão foram cumpridos. Além de Walter Vieira, Ivanildo Fernandes dos Santos, o responsável técnico do laboratório, também foi preso.

O filho de Walter, Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, foi conduzido para prestar depoimento.

As investigações indicam que decisões operacionais visando o lucro comprometeram a segurança dos testes. O CRF/RJ alertou que o laboratório não possui farmacêuticos registrados e que um dos laudos de exames foi assinado com um registro inativo.

Atualmente, 288 doadores que realizaram testes de HIV no PCS Lab entre dezembro de 2023 e setembro de 2024 serão retestados. A secretária de Saúde, Cláudia Mello, declarou que o laboratório foi interditado completamente, não podendo prestar nenhum serviço.

Medidas de Segurança e Recomendações

O Ministério da Saúde também determinou que o grupo de pacientes que receberam órgãos de doadores infectados e seus contatos recebam atendimento especializado.

O MP expediu recomendações para que a SES-RJ e a Fundação Saúde melhorem as análises de amostras de sangue, a fim de prevenir novas infecções.

A Resposta do Laboratório

O PCS Lab, em nota, informou que está conduzindo uma sindicância interna para apurar responsabilidades e oferecerá suporte médico e psicológico aos pacientes afetados. O laboratório repudia as alegações de um esquema criminoso e afirma que ambos os sócios se colocarão à disposição da Justiça para esclarecer os fatos.

Esse caso levanta questões sérias sobre a segurança dos testes de saúde no Brasil e a importância de rigorosos controles na realização de transplantes. As investigações continuam em andamento.

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