Sachês de nicotina favorecem o câncer e viciam, diz especialista
Diferente do cigarro e do cigarro eletrônico, o produto não é inalado, o produto é absorvido pela gengiva, liberando a substância no sangue
![Imagem de sachês de nicotina](https://imagens.ne10.uol.com.br/veiculos/_midias/jpg/2025/02/07/597x330/1_saches_de_nicotina01-33705570.jpg)
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Os sachês de nicotina, conhecidos como pouches ou snus, têm sido divulgados como uma opção discreta e menos nociva ao cigarro.
No entanto, especialistas alertam que essa percepção é equivocada. Segundo profissionais da área de oncologia e tabagismo, esses produtos não são recomendados para quem deseja abandonar o vício, podendo, inclusive, trazer graves riscos à saúde.
Os sachês contêm nicotina sintética ou extraída do tabaco, com concentrações variando de 6 a 25 miligramas (mg) por unidade. Esse teor é consideravelmente superior ao de um cigarro tradicional, que possui aproximadamente 1 mg de nicotina por unidade.
Ao contrário do cigarro e do cigarro eletrônico, o produto não é inalado, mas colocado entre a gengiva e o lábio, liberando a substância diretamente na corrente sanguínea.
Segundo Milena Maciel, consultora na área de tabagismo da Fundação do Câncer, essa forma de absorção pode ser ainda mais rápida e potencialmente viciante. "A mucosa oral tem muitos vasos sanguíneos, o que acelera a absorção da nicotina no organismo. Isso faz com que ela chegue rapidamente ao cérebro e ao sangue", explica.
A nicotina é altamente viciante por atuar nos neurotransmissores responsáveis pela sensação de prazer. Com o tempo, o organismo desenvolve tolerância à substância, exigindo doses cada vez maiores para obter o mesmo efeito. Além disso, seu consumo pode aumentar o risco de câncer, pois a nicotina estimula a proliferação de células cancerígenas. "Há também outros componentes prejudiciais, como níquel, cromo, amônio e formaldeído, substância altamente cancerígena", alerta a especialista.
Outros riscos incluem problemas cardiovasculares, como aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca, além de doenças bucais, como gengivite, cáries e até perda dos dentes. Apesar de adesivos e gomas de nicotina serem utilizados como auxiliares no tratamento do tabagismo sob orientação profissional, os sachês não são reconhecidos como opção terapêutica.
Regulamentação e riscos
No Brasil, os sachês de nicotina ainda não são regulamentados, mas sua comercialização ocorre de forma clandestina, principalmente pela internet. Em janeiro, a Vigilância Sanitária do Mato Grosso do Sul apreendeu mais de 2 mil unidades do produto enviadas pelos Correios. Para atrair consumidores, os vendedores destacam características como a discrição no uso e a variedade de sabores, apelos semelhantes aos utilizados na promoção dos cigarros eletrônicos.
Milena Maciel alerta para o impacto dessa tendência entre jovens e não fumantes. "Tem crianças e adolescentes usando, pessoas que nunca pensaram em fumar se sentem atraídas pelo design moderno e pelos sabores variados", afirma.
Diante desse cenário, a especialista defende que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) regulamente e proíba a fabricação, importação, comercialização e propaganda desses produtos, seguindo o mesmo modelo adotado para os cigarros eletrônicos em 2023.
Em nota, a Anvisa esclareceu que os sachês de nicotina são considerados produtos fumígenos e estão sujeitos à fiscalização sanitária. "No Brasil, não existem produtos registrados que possam ser regularmente comercializados, de maneira que a importação e comercialização são irregulares e sujeitam os responsáveis às devidas penalidades legais", informou a agência.