HC-UFPE é o primeiro hospital público do Brasil a realizar tratamento inovador para Doença Ocular da Tireoide
Paciente de Belo Jardim iniciou, nesta terça-feira (25), a primeira de oito sessões de infusão para controle da condição rara e crônica.
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O Hospital das Clínicas da UFPE (HC-UFPE) se torna pioneiro no Brasil ao realizar o tratamento da Doença Ocular da Tireoide (DOT), uma condição rara, autoimune e crônica, que provoca inflamação e deslocamento do globo ocular.
Se não tratada adequadamente, a DOT pode causar cegueira.
A unidade, vinculada à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), começou o tratamento inovador nesta terça-feira (25) com a feirante Maria José Alves da Silva, de 51 anos, moradora de Belo Jardim, no Agreste pernambucano (a 180 km do Recife).
A paciente iniciou a primeira de oito infusões com intervalo de três semanas entre cada uma, no hospital-dia do HC.
“Essa medicação (Tepezza) é um imunobiológico que age diretamente no foco da inflamação, neutralizando a proteína causadora do problema. Ela tem se mostrado mais eficaz e com menos efeitos adversos em comparação ao tratamento tradicional, que utiliza corticoides. Além disso, a medicação ajuda a reduzir o volume dos músculos ao redor dos olhos, diminuindo o inchaço, algo que nenhum outro tratamento é capaz de fazer”, explica Ana Karina Teles, oftalmologista especializada em órbita e oculoplástica no HC.
A medicação Tepezza foi liberada no Brasil pela Anvisa em julho de 2023, três anos após a aprovação pela FDA, agência reguladora dos Estados Unidos.
A aprovação foi um marco importante, pois o Brasil se tornou o segundo país a disponibilizar o tratamento.
“Estou muito feliz e esperançosa de que vou melhorar. Não senti dor alguma e até dormi durante a aplicação. Espero que outras pessoas possam ter acesso a essa medicação e aos profissionais tão dedicados que encontrei aqui no Hospital das Clínicas”, afirmou Maria José, visivelmente emocionada.
A DOT é uma doença autoimune frequentemente desencadeada por gatilhos emocionais, como aconteceu com Maria José. A doença também afeta a glândula tireoide, levando à Doença de Graves, que provoca hipertireoidismo.
“Na fase mais grave, eu não conseguia olhar para frente nem para cima, só para baixo. Foi quando procurei ajuda e fui encaminhada para o HC”, relatou.
Ana Karina Teles esclarece que a medicação não é indicada para todos os casos de DOT. O tratamento atual, baseado em corticoides e cirurgia para recolocação do globo ocular, continua sendo a escolha para muitos pacientes.
“O tratamento com Tepezza é indicado especialmente para aqueles com visão dupla incapacitante ou com músculos extraoculares muito aumentados, causando dor. O diagnóstico é feito através de exames de imagem e avaliações detalhadas para determinar se o paciente é candidato ao tratamento”, explica a especialista.
O HC é o único ambulatório do Estado especializado no tratamento de doenças oculares raras, como a DOT.
Pacientes de diversas cidades do interior e até de outros estados do Nordeste buscam o HC para tratamento da doença, que é mais comum em mulheres (16 casos a cada 100.000 pessoas), mas nos homens, tende a ser mais grave (3 casos a cada 100.000 indivíduos).
“Realizar este procedimento no HC é um grande passo, não apenas para o hospital, mas para os pacientes, muitos dos quais desconhecem a DOT. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado podem reduzir consideravelmente o sofrimento e evitar complicações irreversíveis”, conclui Ana Karina.
Atualmente, a medicação Tepezza ainda não está inclusa no rol de procedimentos do Sistema Único de Saúde (SUS).